Conversamos com o brasileiro Matheus, de 17 anos, ganhador do "Curso do Futuro" da UWA. Co
- Latino Australia Education
- Nov 16, 2015
- 4 min read
A University of Western Australia - UWA lançou recentemente um concurso chamado Curso do Futuro, onde o participante deveria mandar um vídeo sugerindo um curso que possivelmente haverá na universidade no futuro.

O estudante brasileiro Matheus Saueressig, de 17 anos, participou do concurso, e ganhou! Ele sugeriu a criação do curso de biofabricação, indústria de produtos animais, órgãos e outros derivados biológicos produzidos sem necessidade de um animal, vegetal ou humano completo.
O prêmio? $10,000 dolares australianos para viajar para qualquer lugar no mundo para pesquisar a idéia e depois visitar o Vice-Chanceler da UWA, Professor Paul Johnson em Perth, Austrália.
Entenda a sua idéia, e saiba tudo sobre a iniciativa na entrevista que fizemos com o estudante:
LAE: Como você ficou sabendo do Curso do Futuro – da UWA?
Matheus: Eu descobri o concurso pelo site Estudar Fora, parceira da Fundação Estudar. Sou um grande entusiasta de concursos culturais e concursos de criatividade, muitos concursos eu acabei deixando passar por ser menor de idade ou por não estar na faculdade, mas assim que isso se resolver, pretendo concursar mais concursos como os noticiados no site Estudar Fora.
L: Por que resolveu participar do concurso?
M: Quando vi esse concurso, pensei: claro, além do glamour de viajar o mundo, poder dialogar com autoridades mundiais importantes sobre o desenvolvimento de um curso totalmente novo e inovador que pode contribuir para as áreas acadêmica e profissional do mundo inteiro? Nossa! Como não se entusiasmar?
Além do mais, ganhar um concurso desse peso impressionaria universidades que eu gostaria de fazer um application. A prova que esse concurso teve respaldo nesse aspecto, é que poucos dias depois do anúncio da minha vitória, recebi um convite por e-mail da Hult International Business School para que eu fizesse uma application nela.
L: Como foi o processo de criação do curso?
M: Na realidade, tive um pouco de sorte, uma oportunidade conveniente vamos dizer. Já faz algum tempo que vi os vídeos do senhor Andras Forgacs e suas palestras no TED, também já tinha conhecimento sobre a criação de um hambúrguer feito de células na Universidade de Maastricht. Aquilo me deixou ansioso, vi um novo mercado, uma nova indústria totalmente pioneira ascendendo lentamente pelo mundo. Já tinha até conversado com certos amigos sobre a ideia de nós criarmos uma empresa brasileira de biofabricação, sendo a primeira do Brasil e uma das primeiras do mundo. Quem ouvisse aquilo, pensaria que era apenas um devaneio de adolescentes jovens e ingênuos, eu inclusive deixei de lado por bastante tempo esse projeto.
L: Fale um pouco mais sobre a sua idéia?
M: A biofabricação é a indústria de produtos animais, órgãos e outros derivados biológicos produzidos sem necessidade de um animal, vegetal ou humano completo, usando sofisticados métodos de cultura de células e optimizando a produção para alcançar um bom número de oferta. Imagine algo como um banco de órgãos onde você poderia criar um órgão inteiramente novo e geneticamente compatível para um transplante ou uma "fazenda de picanhas ou de peitos de frango", onde a carne "brotasse" praticamente. Isso diminuiria DRASTICAMENTE os custos com a manutenção do gado, com o abate e com o uso de terras para animais. Para se ter uma noção, é previsto que em 2050 sejam necessários 100 bilhões de animais terrestres para sustentar a demanda populacional. Isso é praticamente insustentável, tanto num aspecto econômico quanto num aspecto ambiental. Aqui no Brasil, os pecuaristas persistem em invadir reservas ambientais para criar seus gados.
Com o crescimento da Biofabricação, a pecuária irá parar de avançar em direção as florestas amazônicas, e quando se tornar uma economia ínfima, será possível reflorestar matas devastadas para criação de gado. Sem falar na questão social, indígenas poderão viver em paz em suas terras sem temer o avanço dos pecuaristas.
Outro ponto interessantíssimo é a redução da probabilidade de pandemias. Muitos virologistas temem um alastramento da gripe aviária, considerada uma bomba-relógio. A ONU declarou que 7 em cada 10 doenças que surgiram nas últimas décadas tem origem animal. Se criarmos carnes e laticínios em laboratório, não correremos nenhum risco de contrair NENHUMA verminose. E eu ainda não falei do fim das centenas de milhares de mortes de animais para abastecer os mercados. Então, como podem perceber, a Biofabricação é uma indústria totalmente revolucionária, que resolve diversos problemas sérios do mundo contemporâneo.
L: Quais são seus planos para o futuro?
M: Sobre a viagem, tenho planos de visitar a Holanda e os Estados Unidos, para conversar com as maiores autoridades de Biofabricação do planeta, desenvolver e amadurecer o projeto do curso e apresentá-lo para o Vice-Chancellor Paul Johnson. Acredito que estão botando bastante fé na criação deste curso do futuro.
O resto...Bom, isso é incerto, extremamente incerto. Uma das minhas características mais marcantes é minha pluralidade de interesses. Já quis ser Físico, Médico, Engenheiro, Biólogo, Músico. O mundo é cheio de coisas interessantes. Agora, com essa proposta da Hult penso se o mundo dos negócios pode não ser interessante também. Ainda não decidi se quero seguir uma carreira administrativa ou acadêmica. Mas uma coisa tenho certeza, vou aplicar para algumas universidades do exterior agora que recebi algum reconhecimento e que tenho algum mérito.
Pretendo também realizar a prova do Monbukagakusho, uma oportunidade de me graduar no Japão. Mas realmente, estou muito interessado na UWA, lá acredito que posso desenvolver ainda mais essa ideia da Biofabricação e posso, quem sabe um dia, abrir a minha empresa de Biofabricação.
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